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quinta-feira, 10 de setembro de 2020

... Apólogo ...

                                                                       


                                                                                                                   Caio Cesar

Certo dia uma caneta começou a suspirar por todos os cantos.
- Que dia chato! Não tenho o que fazer.
- Ei! Por que você não escreve em mim?
  A caneta perguntou para a voz que escutara:
- Quem disse isso? 
- Eu, o papel.
- Hahahaha! Papel não fala!
- Muito menos uma caneta.
- Claro que falo. É por mim que as pessoas falam. 
Me usam para escrever, expressar idéias, sonhos, sentimentos. 
Sou bem mais importante que você.
- Acho que não. 
É em mim que as pessoas fazem tudo isso que você disse.
Além do mais, sirvo para dobraduras, envelope, higiênico...
- Que nojo!
- Nojo nada. 
Você consegue imaginar o mundo sem papel higiênico?
Então acho que em grau de importância estamos empatados.
- Pode até ser.
- Como você é teimosa.
Por que não aceita que somos iguais.
- Somos iguais sim. 
Ambos fomos deixados de lado! 
Agora com essa tal de internet, 
as pessoas nem nos usam mais. 
Ficam horas e horas teclando, teclando... 
Mal lembram de mim ou de você.
- Pois é, por isso eu disse para você escrever em mim. 
Me sinto sozinho também.
 - Acho que não sou nem pior, nem melhor que você.
Sou tão vítima da informatização quanto você, 
a borracha, o lápis...
- Sabe que eu estive pensando?
Eu ainda posso ser utilizado nas impressões.
E você?
- Ah...sirvo pelo menos para anotar recados 
e ficar ao lado dos telefones. 
Ou nem isso porque quase ninguem 
deixa caneta ao lado do telefone.
Dito isso a caneta se esvaiu em tinta 
e manchou todo o papel inutilizando-o. 
Uma caneta sem carga, e um papel manchado, 
não servem pra nada.

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