Encontrei no you tube
essa pérola de vídeo,
que nos traz um poema lindíssimo.
na voz, e emocionante interpretação
de Pedro Barroso.
Vale a pena apreciar.
Abaixo do vídeo a letra do poema.
Cada um de nós nasce com um artista lá dentro.
Um poeta, um escultor, um aventureiro...
um cientista, um pintor, um arqueólogo, um estilista,
um astronauta, um cantor, um marinheiro.
E o sonho e a distância, e o tempo e a saudade
deram-nos vida, amor, problemas, mentiras e verdade;
e damos por nós mesmos descobrindo que agora,
agora se calhar, já é um pouco tarde.
E nas memórias velhas e secretas da menina
mora sempre aquele sonho
de ser bailarina, atriz, modelo, princesa, muito rica,
eu sei lá!
Mas os anos correram num assombro,
e a vida foi injusta em qualquer jeito
para a chama indelével que ainda arde.
E os filhos, os filhos são bonitos no seu peito.
.. mas agora ... que para certas coisas, agora já é tarde.
E nos papéis antigos que rasgamos
há sempre meia dúzia que ainda guardamos.
São os planos da conquista do Pólo Norte
que fizemos um dia com sete anos,
e estiveram perdidos tantos anos.
E agora, se calhar, maldita sorte!
Por desnorte, acaso ou esquecimento,
alguém já descobriu o Pólo Norte e agora...
agora pronto, agora já é tarde.
Há sempre, sempre nas gavetas escritores secretos,
cientistas e doutores, desenhos e projetos construtores
feitos em meninos de tudo o que sonhamos fazer
quando fosse a nossa vez!
Cientistas em busca de Plutão, arqueólogos no Egipto,
viajantes sempre sem destino,
futebolistas de sucesso no Inter de Milão.
E o curso da vida foi traidor, e o curso da vida foi cobarde,
e o ciclo do tempo completou-se,
e agora...
e agora...
e agora pronto, agora já é tarde...
Agora é tarde.
Emprego, casa, filhos muito queridos,
algum sonhar ainda com amigos,
às vezes sair,
beber uns copos p’ra esquecer ou p’ra lembrar,
beber uns copos p’ra esquecer ou p’ra lembrar,
e fazer ainda um certo alarde,
talvez para esconder ou para abafar,
como é já tão demasiado e tão impiedosamente tarde...
Não... mas não, não.
Nunca é tarde para sonhar!
Amanhã partimos todos para Istambul, Vladivostock,
Alasca, Oslo, Dakar!
Vamos à selva, a Timor
abraçar aquela gente e às montras de Amsterdam
(que eu afinal também não sou diferente).
Chegando a Tóquio são horas de jantar,
depois temos de voltar a Bombaim,
passando por Macau e Calcutá,
que eu encontro Portugal em todo o lado
e mesmo fugindo nunca saio de mim.
E se esse marinheiro, galã, aventureiro,
esse, que já não há,
esse, que já não há,
pois que me saiba cumprir com coerência,
nos limites decentes da demência,
nos limites dementes da decência;
e cumpramo-nos todos, já agora, até ao fim,
no que fazemos, na diferença do que formos e dissermos!
E perguntando, criando rebeldias, conferindo aquilo que acreditamos e que ainda formos capazes de sonhar!
E se aquilo, aquilo que nos dão todos os dias
não for coisa que se cheire ou nos deslumbre,
que pelo menos nunca abdiquemos
de pensar com direito à ironia, ao sonho, ao ser diferente.
E será talvez uma forma inteligente de, afinal, nunca... nunca, nunca ser tarde demais para viver,
nunca ser tarde demais para perceber,
nunca ser tarde demais para exigir,
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