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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

... " Coisa " ...






Texto de Francicarlos Diniz
(jornalista e escritor, pós-graduado em Comunicação pela USP)

A palavra "coisa" é um bombril do idioma. 
Tem mil e uma utilidades.  
É aquele tipo de termo-muleta ao qual recorremos 
sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia.
"Coisas" do português.

Gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: 
o Houaiss (dicionário) registra a forma "coisificar".

 E no Nordeste há "coisar": 
Ô, seu "coisinha", você já "coisou" aquela coisa 
que eu mandei você "coisar"?
Na Paraíba e em Pernambuco,
 "coisa" também é cigarro de maconha.
Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa 
tem um baseado como símbolo em seu estandarte. 
Alceu Valença canta: 
Segura a "coisa" com muito cuidado / Que eu chego já."
Já em Minas Gerais ,
 todas as coisas são chamadas de trem
 (menos o trem, que lá é chamado de "coisa").
 A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trens que lá vem a "coisa"!.
E no Rio de Janeiro? 
Olha que "coisa" mais linda, mais cheia de graça...
A garota de Ipanema era coisa de fechar o trânsito! 
Mas se ela voltar, se ela voltar, que "coisa" linda, que "coisa" louca.  Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.
 
Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino.
Coisa-ruim é o capeta. 
Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!
Coisa também não tem tamanho.
Na boca dos exagerados, 
"coisa nenhuma" vira um monte de coisas...
 
Mas a "coisa" tem história mesmo é na MPB.  
No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, 
a coisa estava na letra das duas vencedoras: 
Disparada, de Geraldo Vandré: 
Prepare seu coração pras "coisas" que eu vou contar..., 
e A Banda, de Chico Buarque:
 pra ver a banda passar, cantando "coisas" de amor...
 Naquele ano do festival, no entanto, 
a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). 
E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: 
“coisa" linda, "coisa" que eu adoro!
 
Para Maria Bethânia, 
o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade afinal, 
são tantas "coisinhas" miúdas.  
E esse papo já tá qualquer "coisa".
 Já qualquer "coisa" doida dentro mexe...
Essa coisa doida é um trecho da música 
"Qualquer Coisa", de Caetano, que também canta: 
alguma "coisa" está fora da ordem! 
e o famoso hino a São Paulo:
 "alguma coisa acontece no meu coração"!
 
Por essas e por outras, 
é preciso colocar cada coisa no devido lugar.
Uma coisa de cada vez, é claro, afinal,
 uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa.  
E tal e coisa, e coisa e tal.
 
Um cara cheio de coisas é o indivíduo chato, 
pleno de não-me-toques.
Já uma cara cheio das coisas, vive dando risada.
 Gente fina é outra coisa.

Para o pobre, a coisa está sempre feia:
o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma. 
A coisa pública não funciona no Brasil.
 Político, quando está na oposição, é uma coisa, 
mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura.
Quando elege seu candidato de confiança, o eleitor pensa: 
Agora a "coisa" vai... Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. 
Uma coisa é falar; outra é fazer. 
Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!
 
Se as pessoas foram feitas para serem amadas, 
e as coisas, para serem usadas,
 por que então nós amamos tanto as coisas 
e usamos tanto as pessoas?
 
Bote uma coisa na cabeça:
 as melhores coisas da vida não são coisas. 
Há coisas que o dinheiro não compra: 
paz, saúde, alegria e outras coisitas mais.
 
Mas, deixemos de "coisa", cuidemos da vida, 
senão chega a morte, ou "coisa" parecida...
 
Por isso, faça a coisa certa 
e não esqueça o grande mandamento:
"Amarás a DEUS sobre todas as coisas". 


  

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