Alberto Caeiro ( Fernando Pessoa )
Se eu pudesse trincar a terra toda
e sentir-lhe um paladar,
seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
e a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade,
naturalmente, como quem não estranha
que haja montanhas e planícies,
e que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo.
Na felicidade ou na infelicidade,
sentir como quem olha,
pensar como quem anda.
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
e que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
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