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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

... Virtual para o Real ...




Tenho computador em casa há 20 anos.
Quanta saudade do meu velho computador.
Ele resistiu a uma década e meia.

 
Dos 7 primeiros anos dessa minha convivência com ele,
trago na lembrança:
mensagens que eu escrevia
e tirava cópias coloridas para distribuir aos amigos,
livrinhos que eu montava para nosso grupo de orações,
inclusive os das novenas,
 os jogos,
 de Paciência, Lig4, Damas e outros.
Lembro da alegria quando meu filho colocou para mim
a Paciência Spider.
                               Nossa, isso foi um achado muito importante.

Num belo dia, 
na aula de pintura, 
uma amiga me falou das salas de bate papo.
Chegando em casa,
 fui me guiando pelo mapa que ela me passou,
 e encontrei. 
Fiquei encantada com a novidade.
 
 
 
Conheci o Google.
Que fantástico!
 
 
Aí veio o MSN,
logo depois apareceu o Yogurt(Orkut),
Ovoo, o Face, o Badoo.
Resumindo,
 eu entrei para o Mundo Virtual
com seus relacionamentos.
Essa máquina é espantosamente maravilhosa.
Pena que muitas das pessoas que a usam,
não sejam tão maravilhosas assim.
Tenho no mundo virtual 
 uma grande coleção de amigos,
que agradeço  por tê-los conhecido.
Muitos desses amigos, já são agora amigos reais.
Alguns já foram para outra dimensão.
Que dor inexplicável sentida nessa hora,
quando temos a consciência
que não poderemos mais "ver" aquela pessoa.
 
Frequento aqui no Mundo Virtual
um Grupo de Oração.
Hoje restam poucos amigos.
Diversos motivos são a causa do afastamento.
Morte, problemas visuais, Parkinson,
entre outras coisas.


O Mundo Virtual é como se fosse uma balança.


Tem a mentira e falsidade,
 mas em compensação tem um lado verdadeiro.

Aqui já vi, constatei,
 coisas tristes demais.
Aqui temos aquelas pessoas sinceras,
verdadeiras, boas,
e que vem para essa máquina de coração aberto,
com amor e consideração pelo seu próximo.
Mas nem sempre é assim, infelizmente.

Sou muito romântica,
 e ao contrário de Silvana,
a escritora do texto abaixo,
sou muito crédula
 e ainda acredito nas palavras
que aqui são tecladas.
Mas sempre penso também
no ditado que diz:
"Tolo não é aquele que acredita na mentira,
tolo é aquele que mente."

A mensagem dessa postagem,
muito inteligente diga-se de passagem, 
descreve muito bem o Mundo Virtual.
  
* * * * * *  
 
A Passagem do Virtual para o Real
                                        Silvana Duboc

 
                                               Para muitos,
a passagem do virtual para o real é bastante dura.
Para outros, impossível.

 
 
 
Lembro-me dela, que não era ela, era ele.


 
 
Lembro-me dele que não tinha charme algum,
embora fosse um verdadeiro Don Juan no virtual.
 Sabia lidar muito bem com as palavras escritas.
 
 
 
Lembro-me de toda aquela falsa alegria
que vários deixaram transparecer durante anos
através das letras e que, no real, rolou ladeira abaixo.


 
 
Lembro-me de opções sexuais que não eram verdadeiras
e de amizades que não foram sinceras.


 
 
Lembro-me daquela loura fatal, sexy, sensual,
que enviava sempre suas fotos causando frisson em muitos.
Trinta, trinta e cinco anos, talvez?
 Não!
Já era avó e beirava seus setenta anos.
 As tais fotos eram de cerca de trinta anos atrás
 retocadas por um super photoshop.


 
 
Lembro-me de críticos literários.
Viviam de um sonho
que possivelmente jamais concretizaram.


 
 
Lembro-me dos exaltados, ferozes, provocadores.
Verdadeiras ovelhinhas no real.


 
 
Lembro-me de profissões virtuais.
Médicos, Advogados, Engenheiros.
Seres reais que sequer tiveram a oportunidade
de passar na porta de uma faculdade.
 


 
 
 
Lembro-me dos donos das verdades virtuais,
apenas virtuais.
No real, não tinham opinião a respeito de nada.
Perdiam-se dentro das suas próprias dúvidas.
 

 
 
 
Lembro-me dos intelectuais,
 vários,
a maioria de porta de buteco.
 


 
 
 
Lembro-me de amores
que jamais passaram para o real
pois no virtual já eram impossíveis.
Se bem que necessários. 

 
 
Lembro-me do caráter dos seres virtuais.
 Como distinguir os bons e os maus?
Ainda não existe em nenhum computador
uma peça que se encaixe
e faça uma luz vermelha ou azul piscar,
a cada e-mail que entra na nossa caixa de correio.
a cada nick que nos aborda num bate papo, 
nos dando a informação que precisamos.


 
 
Lembro-me dela que tomou ele da outra
e dessa mesma outra que nunca foi dele.
Mas havia quem dissesse:
 - Ele é meu!
- Ela é minha!
No virtual, ninguém nunca foi de ninguém e
 quando chegaram ao real, poucos foram de alguém.

 
 
Lembro-me dos formadores de opinião
e das vaquinhas de presépio.
 
 
 
Lembro-me da unanimidade virtual,
talvez a única coisa real.
 
 
 
Lembro-me de enigmas.
É assim ou assado?
É falso ou verdadeiro?

 
 
 
E lembro-me dos especialistas em enganar,
trapacear, provocar.


 
 
Lembro-me dos ofendidos,
feridos,
que sangravam virtualmente, até não poder mais.


 
 
Lembro-me das doenças virtuais (),
das mortes (), 
das fugas e dos sumiços.
Seres que nem mesmo no virtual
conseguiram sustentar seus personagens.
 
 
Lembro-me dos ódios e intrigas.
Quem seria o vilão e a vítima?
Jamais saberei.
 
 
 
Lembro-me de mim,
em meio a um tiroteio invisível
e a um carinho duvidoso.

 
 
Lembro-me tão bem das carências excessivas
que desabrochavam em palavras dolorosas.

 
 
Lembro-me da criança que era um adulto
e do adulto que era uma criança.
 
 
 
 
Lembro-me da ofensa,
da necessidade de denegrir a imagem
de pessoas que incomodavam a outras
pelo simples fato de se destacarem virtualmente.

 
 
Lembro-me, finalmente,
que o virtual jamais conseguiu ser real
e que o real vivia a anos luz do virtual.


 
 
Depois de lembrar-me de tudo isso
chego a conclusão
que apenas sei que nada sei sobre o mundo virtual,
assim como ninguém sabe.
 
 
 Ainda bem que eu não acredito em letras,
adoro poesia pois sou muito romântica,
mas não me convencem, acredito somente em atitudes...

 

 
 

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