Desconheço autoria do texto,
mas pelas expressões usadas é de origem portuguesa.
O batizei como:
Magia de Natal
Francisco frequentava o terceiro ano de escolaridade,
com muito bom aproveitamento.
Era um miúdo admirável.
Já vivera razoavelmente,
mas atualmente, sofria as consequências
da quase indigência do pai por, no início daquele ano
ter perdido o emprego.
Era um bom trabalhador, mas a oficina fechara.
Andava o miudinho muito triste e amargurado
porque a fome, o frio e a tristeza
eram o pão nosso de cada dia naquela casa.
Como habitualmente, ao se aproximarem as férias de Natal,
a profesora pediu que os alunos fizessem uma redação
sobre essa quadra festiva.
Francisco debruçou-se sobre o papel
e numa letra mais adulta que infantil,
intitula a sua composição de Apelo e escreve:
Menino JESUS,
não acredito no que tenho ouvido dizer
a teu respeito, ou seja, que só dás a quem já tem,
e nada dás a quem nada tem!
Explico-te porquê:
eu sei que são os pais a darem nossas prendas e não tu,
que tem mais que fazer.
Se fostes tu de certeza que dava a todos e se calhar,
em primeiro lugar ao mais pobres.
Sim, eu tenho certeza que seria assim,
pois nunca te esqueces que também nasceste pobre
e pobre morreste.
Não venho pedir nada para mim.
Quero só lembrar que o meu pai
está há um ano sem trabalho
e precisa de ganhar dinheiro para nos sustentar.
Por isso, não te esqueças de lhe arranjar um emprego.
Eu sei que Natal quer dizer nascimento e olha,
nós também nascemos e,
com certeza não foi para que morressemos já,
sem dar testemunho sobre a terra.
Se assim fosse, como é que poderíamos dar
os parabéns pelo seu aniversário ?!
Já agora podes ficar a saber que eu nasci no mesmo dia.
Eu Nasci no Natal.
Pouco antes de as férias começarem,
a professora chamou o Francisco
e disse-lhe que tinha arranjado trabalho para seu pai e,
que já poderia começar a trabalhar no princípio de janeiro
do próximo ano.
Foi tal a alegria dele que chorou copiosamente e, então,
passou a andar tão contente, que os pais não sabiam que dizer.
No entantanto ele não disse porque é que andava assim.
Na véspera de Natal todos se deitaram cedo,
pois a consoada consistia em sopa e pão,
por o dono da mercearia, atendendo ao dia que era,
ter condescendido em acrescentar ao rol da dívida.
O Francisco não adormeceu logo.
Depois de ter verificado que todos estavam a dormir,
foi colocar o seu sapatinho à porta do quarto dos pais,
com um bilhete dentro.
No dia de Natal, a mãe que era sempre a primeira a levantar-se,
ao sair do quarto tropeçou no sapato do filho.
Baixou-se, pegou nele e leu o bilhete, que dizia:
Pai, a partir de janeiro vai ter trabalho.
Foi a minha professora que lho arranjou,
por causa da minha redação ao Menino JESUS.
É nossa prenda de Natal.
Com lágrimas nos olhos, de contentamento,
aquele casal entrou, pé ante pé no quarto do filho.
Ao vê-lo profundamente adormecido,
a sorrir ambos disseram:
- Eis aqui nosso Menino Jesus.
-·=»‡«=·-
Que cada um de nós possa ser também
um anjo sem asas na vida de seu próximo.
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