Hemingway, escritor norte-americano,
trabalhou como correspondente de guerra
em Madrid durante a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939).
Esta experiência inspirou uma de suas maiores obras,
Por Quem os Sinos Dobram.
Ao fim da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), instalou-se em Cuba.
Em 1953, ganhou o prêmio Pulitzer,
e, em 1954, ganhou o prêmio Nobel de Literatura.
Ao longo de sua vida,
o tema suicídio aparece em seus escritos,
cartas e conversas com muita frequência.
Seu pai suicidou-se em 1929
por problemas de saúde e financeiros.
Sua mãe, Grace, dona de casa e professora de canto e ópera,
o atormentava com a sua personalidade dominadora.
Ela mandou para ele, pelo correio,
a pistola com a qual o seu pai havia se matado.
Hemingway ao receber a encomenda da mãe,
ficou desconcertado.
Não sabia se ela queria que ele repetisse o ato do pai
ou que guardasse a arma como lembrança.
Aos 61 anos,
enfrentando problemas de hipertensão, diabetes,
depressão e perda de memória,
Hemingway decidiu-se pela primeira alternativa.
Todos personagens deste escritor
se defrontaram com o problema
da "evidência trágica" do fim.
Hemingway não pôde aceitá-la.
Até que, na manhã de 2 de julho de 1961,
em Ketchum, em Idaho, tomou um fuzil de caça
e disparou contra si mesmo.
Encontra-se sepultado
no Cemitério de Ketchum, no Condado de Blaine,
em Idaho, nos Estados Unidos.
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Vista Cansada
Otto Lara Resende
Acho que foi o Hemingway quem disse
que olhava cada coisa à sua volta
como se a visse pela última vez.
Pela última ou pela primeira vez?
Pela primeira vez foi outro escritor quem disse.
Essa ideia de olhar pela última vez
tem algo de deprimente.
Olhar de despedida,
de quem não crê que a vida continua,
não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.
Se eu morrer,
morre comigo um certo modo de ver,
disse o poeta.
Vê não-vendo.
Experimente ver pela primeira vez
Parece fácil, mas não é.
O que nos cerca, o que nos é familiar,
já não desperta curiosidade.
O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta.
Se alguém lhe perguntar
o que é que você vê no seu caminho,
você não sabe.
De tanto ver, você não vê.
Sei de um profissional
que passou 32 anos a fio
pelo mesmo hall do prédio do seu escritório.
Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro.
Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado
ou uma correspondência.
Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia?
Não fazia a mínima ideia.
Em 32 anos, nunca o viu.
Para ser notado, o porteiro teve que morrer.
Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa,
cumprindo o rito,
pode ser também que ninguém desse por sua ausência.
O hábito suja os olhos
e lhes baixa a voltagem.
Mas há sempre o que ver.
Gente, coisas, bichos.
E vemos?
Não, não vemos.
Uma criança vê o que o adulto não vê.
Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo.
de fato, ninguém vê.
Há pai que nunca viu o próprio filho.
Marido que nunca viu a própria mulher,
isso existe às pampas.