Os cegos e a roseira
Texto de Marco Aurélio Dias
Dois cegos
se aproximaram de uma roseira
para saber exatamente como ela é.
Um deles esticou a mão e agarrou o galho cheio de espinhos.
Deu um grito e largou-o.
Em seguida, disse que a roseira é um bicho feroz
e que mordeu sua mão com dentes pontiagudos.
Aconselhou que se afastassem da roseira.
O segundo esticou a mão e apalpou a flor,
sentindo a maciez das pétalas
e a fragrância do perfume suave.
Este disse que a roseira não é um animal feroz,
mas um animal de pele macia como a dos bebês
e muito perfumada, não trazendo nenhum perigo ou ameaça.
E ficaram discutindo sobre a roseira.
Um dizia que a roseira é um bicho feroz, capaz de morder,
e o outro cego falando que a roseira é um animal dócil,
de pele macia e perfumada.
Bom, os dois estavam enganados
e nenhum viu a roseira no seu todo.
Parece que, diante da vida, somos como os dois cegos.
Temos opiniões que não são a realidade.
Acreditamos nas coisas que tocamos
e achamos que elas são o todo,
porém não passam de um pedaço.
Pior ainda, julgamos as coisas pelos conceitos que criamos.
E, como os dois cegos, ficamos discutindo
achando que estamos com a razão,
que conhecemos a verdade
e nos sentimos justificados
quando maltratamos e desconfiamos dos outros
baseados em nossos julgamentos.